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TEMAS TRANSVERSAIS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

TEMAS
TRANSVERSAIS


O QUE SÃO OS TEMAS TRANSVERSAIS?


São temas que permitem um elo de discussão entre as áreas de estudo, para
passem todas a servir a um projeto social definido pela comunidade. Este pro-jeto
se organiza através da discussão de temas que estão relacionados a um contexto
político e social específico, ancorado na vivência histórica particular daquele grupo
humano. Os temas transversais são um recurso de trabalho para o desenvolvimento
de currículos mais significativos e flexíveis, fazendo dos conteúdos acadêmicos
estudados na escola um instrumento para pensar questões socialmente relevantes
para aquele conjunto de pessoas.
Aqui são apresentados alguns temas transversais escolhidos e elaborados
por um grupo de professores índios com a participação de consultores. Para a
definição dos temas e a caracterização de sua relevância histórica e social para o
projeto educativo de abrangência nacional, foram colhidas sugestões de um conjunto
amplo de professores de diferentes etnias e regiões do país. A elaboração do
texto ficou a cargo de dois professores indígenas da equipe do
Valmir Kaingang e Fausto Macuxi. Para escrevê-lo, eles convocaram equipes em
Roraima, entre os Macuxi, e no Rio Grande do Sul, entre os Kaingang, duas significativas
etnias em dois pontos extremos do Brasil. A metodologia usada por eles
foi a de trabalho em grupo, com a escolha de um professor de cada área e um
coordenador para todos os grupos.
Os seis temas aqui apresentados — terra e biodiversidade, auto-sustentação,
direitos, lutas e movimentos, ética indígena, pluralidade cultural e educação e saúde
- formam a base do projeto político que sustentará a construção curricular nas
escolas indígenas brasileiras. Apresentados de forma simplificada, os temas são
explicados em sua importância e atualidade. No entanto, são os professores, em
acordo com suas comunidades, ao discutir seu projeto educativo e a programação
curricular de suas escolas, que vão relacioná-los aos conteúdos de estudo nas áreas,
tornando a aula mais prazerosa e adequada aos interesses dos seus alunos. Aqui
são dadas apenas algumas pistas de por que, para que e como se pode concretizar
esta relação nas diferentes áreas de estudo.

TEMA1:

Terra e Conservação da Biodiversidade

A temática Terra e Conservação da Biodiversidade está profundamente relacionada
com a vida, a saúde e a existência dos povos indígenas. "Sem a terra não
tenho casa, não posso caçar, não posso pegar peixe para os meus filhos comerem,
nem viver direito" (depoimento de um Tuxaua de Roraima). A terra é, para muitos
povos indígenas, "a mãe", quem gera e alimenta a vida.
E preciso reconhecer os inúmeros trabalhos que os índios desenvolvem para
a conservação tanto da fauna como da flora o equilíbrio até hoje existente é devido
aos conhecimentos adquiridos e repassados por seus ancestrais. As técnicas


Também devemos conservar
nosso meio ambiente, reflorestar
onde não se tem mais
a mata. porque antigamente,
por causa da mata, pudemos
conservar mais a nossa
própria cultura: nela, a religião,
a educação, a saúde, a
agricultura, compõem um
todo integrado. Professores
Macuxi, RR

"rústicas" e manejos diferenciados da agricultura guardam segredos dos povos. A
roças, os plantios, as coletas, significam muito para cada povo. As capoeiras
funcionam como renovação e armazenamento de alimentos para muitos. É lá que se
encontra lenha, lá que se encontra determinada planta que cura a enfermidade e lá
que se encontra o cará para fazer o seu mingau ou sua bebida preferida. Tira-se
madeira para fazer nova casa para o filho que se casou ou então se colhe a fruta
preferida ou ainda se caça a cutia, o tatu, dependendo da região do Brasil em que
se localiza o povo.
No Brasil, de forma genérica, as terras indígenas ainda são as que possuem
essas características de harmonia e equilíbrio. Porém, as destruições em nome do
progresso, a ganância do dinheiro, a falta de respeito aos limites e fronteiras dessas
terras, as invasões, o uso predatório dos recursos naturais, são constantes e visíveis,
e afetam cada vez mais as condições socioambientais desses territórios.
A diversidade é frágil e precisa de conscientização, por meio da escola
e dos meios de comunicação mais modernos existentes, para garantir a
continuidade da vida e sua relação com o ser. A convivência do homem
com os animais e com os vegetais não pode ser alterada e nem diferente
daquela que havia há 500 anos atrás, em termos de respeito e
preservação.

Os índios sabem muito bem como fazer isso, ficam doentes
e podem até morrer quando presenciam cenas de destruição. Destruição
essa que atinge a cultura, a língua, a alegria e começa a formar um
círculo vicioso que é muito ruim. Professores Macuxi, RR.

Uma questão importante a ser discutida é a perda das sementes pré-colombianas
dos grupos indígenas (geralmente essa perda se dá pela substituição por
sementes híbridas, fornecidas por projetos do governo). A perda das sementes
tradicionais diz respeito não só à auto-sustentação do grupo indígena, mas também
à riqueza genética do planeta. No mito de origem dos legumes, os Kaxinawá contam
a história de um grupo que perdeu todas as suas sementes tradicionais, o que
trouxe, como conseqüência, a fome:

vivia uma nação indígena que já tinha perdido todas as sementes de
seus legumes: milho, macaxeira, batatas, inhame, mindubim e outros.
Eles não tinham nada para comer, passavam muita fome. A sua
alimentação passou a ser barro. Comiam barro torrado, feito caiçuma,
arido. O povo já estava bem fraquinho, já estava perto de morrer
de tanto comer barro... Josimar Tui Kaxinawá, AC.

Trabalhar na escola sobre a necessidade de preservar as sementes tradicionais
é muito importante, ver que espécies e variedades o grupo ainda possui, quais
as que já perderam, se há possibilidade de recuperá-las em outros grupos, discutir
sobre as conseqüências, para o grupo, da perda dessas sementes. Esse trabalho
node ser iniciado a partir do mito de origem das sementes, que cada povo tem.
Esse estudo pode ser feito na geografia, nas ciências...
O estudo das questões da terra e da biodiversidade não pode se esquecer
dos mitos, das explicações culturais de cada povo, que são modos de conhecer
que devem ser apresentados e valorizados. Por exemplo, um assunto muito importante
é a fertilidade dos roçados, que está ligada à qualidade do solo mas também a
outros significados simbólicos, como pode-se ver nesse texto do agente
agroflorestal:

Eu vou escrever contando a tradição da sociedade Manchineri - de como
se pede a força para o espírito do fogo, de como se chama o vento para chegar
com força até onde a pessoa está chamando. O vento vem alegre como todo
espírito. As pessoas são bem ouvidas na hora de chamar a natureza. Ela não
demora. Só que a pessoa tem que ter fé, porque é a energia da natureza que
dá a boa plantação para quem pede. Por issor nós Manchineri fazemos a
imitação da natureza. No dia em que nós vamos queimar o roçado, essa força
já está no roçado, local onde ela já foi chamada, e fica até as plantas ficarem
maduras. Essa força é boa para nós. Até as plantas ficam alegres e com mais
força. Por ter tanta força, as plantas têm cheiro de alegria. Reparem bem que
o roçado novo tem cheiro de natureza, porque ela foi chamada para ficar nos
roçados das pessoas. Se não chamar a força do fogo e do vento, o roçado não
queima bem que preste. Também a plantação não vai dar uma boa safra.
Para nao acontecer esses problemas, os Manchineri, desde o início da broca
do roçado, têm sempre que tocar a música do roçado com uma flauta de taboca,
para ir chamando, de pouco a pouco, essa qualidade de energia. Paulo Hermídio
Manchineri, AC.

O Livro das Arvores, AM (OGPTB -1997)

Este tema, terra e biodiversidade, anda junto e é completado pelo da autosustentação,
que lida, entre outros assuntos, com o do uso dos recursos naturais É
importante a noção de recursos renováveis e não renováveis e de sustentabilidade

Eu não moro tantos anos onde estou atualmente, porém gostaria que
meus filhos e netos vivessem sempre nesse lugar, nossa Terra Indígena. A
tendência é começar a plantar, a plantar a paxiúba, as palheiras, o pau
d'arco, o aquano, a maçaranduba, que são paus mais resistentes. A gente
vê muito dessas plantas cair a fruta na floresta e começar a nascer \ ali
mesmo, então a gente está pegando algumas plantas e começando a
plantar. Eu sei que aquilo talvez não vai servir pra mim, mas tenho a
idéia que vai servir para alguém, meu filho, ou para alguém que vai
morar por ali. A idéia é de mostrar que a gente tem como plantar,
porque se não plantar, no futuro nós não vamos ter condições de ter
uma floresta como temos agora. A gente sabe que muitas pessoas dizem
que a natureza não se acaba, mas claro que se acaba! Porque, se não
acabasse, ninguém ouvia histórias que os velhos ficam contando que no
ano tal matou uma anta, viu um bando de macaco, pegou cinco jabutis.
Agora a gente escuta que a caça está se acabando, então, se a caça está
se acabando, a pessoa está crescendo, a natureza também está se
acabando, os animais, a floresta, a terra, estão sendo muito usados.
Joaquim Maná, professor Kaxinawá, AC.


O tema Terra e Conservação da Biodiversidade objetiva assim valorizare
refletir sobre a realidade atual fundiária e ambiental do Brasil e conscientizar a sociedade
nacional e as indígenas para a construção do futuro, no que diz respeito à
dignidade dos povos indígenas, à sua vida em comum e à harmonia com o seu
meio. Tendo esse objetivo maior em vista, propõe-se o desenvolvimento das seguintes
objetivos:
• Conhecer a Constituição que assegura o direito à terra e seu usufruto.
• Valorizar a biodiversidade existente em áreas indígenas.
• Identificar as áreas indígenas existentes no Brasil e os valores de relação
com o seu habitat.
• Reconhecer a riqueza biológica de sua área indígena e do Brasil.
• Valorizar o meio em que vive, destacando a biodiversidade existente nele.
• Reconhecer os materiais existentes na natureza que possibilitam as manifestações
artístico/culturais de seu povo.
• Conhecer e discutir a questão das terras indígenas e a situação fundiária no
Brasil.

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TEMA 2: AUTO-SUSTENTAÇÃO

Tudo que fazíamos foi se tornando mais difícil e distante para o nosso
Povo, por causa do aumento da população, mas principalmente pela
chegada do "Homem Branco " a esse país, por volta dos anos 1500,
numa esquadra de navios. Tentando se tornar amigos, retiraram o que
tinha de valor na terra onde habitávamos. Com isso a maioria de nosso
povo aos poucos deixou o que praticava antes. Passou a receber ordens
e novos tipos de trabalho. Isso fez com que ficássemos dependentes de
outros costumes e esquecêssemos os nossos valores. Tiraram muitas terras
nossas, desvalorizaram a nossa cultura e a religião, a forma com que
guardávamos os nossos produtos de subsistência e vários outros
elementos de nossa cultura. Professores Kaingang, RS.

A Auto-Sustentação é um tema muito importante para os povos indígenas,
sobretudo no momento em que estes povos, assim como todo o país e até o planeta,
enfrentam várias dificuldades para sua sobrevivência, especialmente em relação
ao uso dos recursos naturais.
Para as comunidades indígenas, as principais questões que envolvem a autosustentação
são a sua TERRA e a valorização de sua cultura. As comunidades
buscam alternativas para o seu sustento e autonomia econômica, social e política,
como grupos diferentes da sociedade nacional. Nos seus territórios, lutam para ter
a sua própria economia. O objetivo de continuar a manter o grupo em relação a
alimento, vestuário e outros produtos é uma preocupação cada vez maior. Algumas
alternativas surgem, como projetos comunitários, em vários setores: nos processos
de produção e ajuda mútua na saúde, lazer, educação.
Com o passar do tempo e a aceleração do contato, os membros das comunidades
indígenas tendem a depender de outros tipos de trabalhos para sua sustentação,
tornando-se diaristas e exercendo outras formas de trabalho que a sociedade
envolvente lhes oferece.
Hoje em dia, buscando resolver seus problemas, as comunidades indígenas
fazem parcerias com outras comunidades indígenas, com organizações governamentais
e não governamentais. Lutam para se tornar autônomas e se auto-sustentar,
não no sentido de se isolar, mas de poder relacionar-se com a sociedade envolvente
com dignidade, respeito, com direitos e deveres a cumprir em vários setores: e
estâncias a qualquer hora e em qualquer lugar neste país.
No mundo de hoje, de profundas e rápidas mudanças, os povos indígenas
Procuram formas novas de auto-sustento e sobrevivência. Querem participar da
vida política, entrar na economia de mercado e ser reconhecidos e respeitados.

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 "Há que se considerar que a escola de uma comunidade, em contato
permanente com a sociedade dominante, tem por necessidade preparar
o aluno para articular estratégias de sobrevivência em que circunstâncias
atuais como discursar, negociare, em alguns casos, até competir, estejam
sempre presentes no trabalho com a educação ".
Parecer da professora Sélia Ferreira Juvêncio, Kaingang, RS

Este tema, assim como os demais, ao se tornar transversal, pode orientar as
aprendizagens da matemática, das línguas, da geografia, da história, da arte, das
ciências...
A construção de um problema matemático, elaborado seja na língua indígena,
seja no português, pode ser tematizado nas atividades agrícolas e extrativas de
auto-sustento. A geografia pode se aprofundar nas novas formas de uso do território
após a demarcação das terras, a história pode ajudar a pensar como era antes e
como é hoje para projetar o futuro de auto-sustento e trabalho sonhado. Na disciplina
de arte, o professor poderá trabalhar com seus alunos a valorização das produções
artísticas da comunidade enquanto uma das formas de auto-sustentação,
lembrando que o estudo dos processos culturais de produção artística deverá envolver
estudos sobre o uso adequado das matérias primas. Na disciplina de ciências,
pode-se trazer para a sala de aula elementos da natureza que sejam usados no
tratamento de doenças ou como fonte de alimentação e de produção artesanal, tais
como folhas, raízes, flores, sementes, caules, que servem para obter melhores condições
de vida e de saúde. É importante refletir também sobre a produção de conhecimentos
relacionados à sua medicina, hoje tão valorizada por algumas sociedades
não-indígenas. Em todas as áreas de estudo, pensar as alternativas que se
apresentam para as atividades produtivas daquela comunidade. Quando se fala em
produção, tanto se pode estar falando de bens como de conhecimentos. Assim,
nem toda produção tem um valor imediato de mercado. No entanto, a relação com
o mercado é um desafio e uma necessidade de grande parte das comunidades
indígenas hoje, e por isso é importante refletir, na escola, sobre a questão da subsistência
e as relações de mercado que se abrem em cada caso.

Os objetivos de trazer este tema para a sua discussão na escola são:
• Permitir aos alunos uma escolha mais consciente das alternativas de autosustentação
hoje presentes para sua sociedade, ajudando a fazer da escola
um local de reflexão sobre a vida e o trabalho, numa perspectiva de progressiva
autonomia.
• Aplicar os conhecimentos das diferentes áreas de estudo para apoiar a
discussão do mundo produtivo e do trabalho.
• Conhecer, a partir de diferentes fontes, as alternativas econômicas daquele
grupo étnico antes do contato.
•Refletir sobre o que permaneceu e o que mudou nessas práticas produtivas
e culturais.
•Conhecer outras práticas produtivas para o auto-sustento de sociedades
em condições ambientais e socioculturais similares.
•Compreender as noções de recursos renováveis e não renováveis.
•Compreender a noção de atividade predatória.
• Participar da criação de alternativas de auto-sustento a partir das condições
socioambientais atuais.
• Participar da busca das alternativas de comercialização nos mercados regional,
nacional e internacional.
• Desenvolver atitudes para o trabalho e a vida social que reforcem os laços
de solidariedade familiar e comunitária.
•Conhecer procedimentos e técnicas, adequadas culturalmente e
ambientalmente corretas, que permitam o enriquecimento alimentar e a
melhoria das condições de vida e saúde.

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TEMA 3:

Direitos, Lutas e Movimentos

A Temática "Direitos, Lutas e Movimentos" diz respeito aos direitos indígenas,
tanto aqueles conquistados e assegurados na Constituição em 1988 e em outros
textos legais nacionais e internacionais, como aqueles ainda não reconhecidos.
Esses direitos estão relacionados ao fenômeno recente da emergência das lutas e
dos movimentos indígenas, que surgem em forma de organizações com poder e
representatividade em várias regiões do país. Tais lutas objetivam conquistar novos
direitos e fazer valer os que já existem, aprendendo a lidar melhor com o mundo
institucional, público e privado da sociedade nacional e internacional e a tratar de
demandas territoriais (demarcação e controle de recursos naturais), assistenciais
(saúde, educação, transporte e comunicação) e comerciais (colocação de produtos
no mercado).
Este tema também trata dos direitos inerentes a todo ser humano, índio ou
não - direito à vida, à liberdade, direitos das crianças, dos adolescentes, das mulheres...
E importante conhecer esses direitos e contextualizar os direitos indígenas no
marco mais abrangente dos direitos humanos.
O tema Direitos, Lutas e Movimentos é da maior relevância para a população
indígena brasileira. Sua veiculação na escola, ao longo do ensino fundamental,
e importante para que cada aluno índio saiba e conheça os seus direitos - aqueles
inerentes a todo ser humano, aqueles assegurados na Constituição e o potencial de
conquista de outros novos. É um suporte para que povos e comunidades indígenas
saibam exigir os seus direitos diante da sociedade nacional, para que esta saiba
respeitar e preservar a integridade física e moral dos povos indígenas e para o
exercício dos direitos dentro das próprias comunidades indígenas. Entre os direitos

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a serem garantidos e assegurados na escola está o de construir um currículo diferenciado
e específico. Essa temática pode ser um instrumento para vivenciar uma
escola adequada aos interesses da comunidade, ajudando a formar uma prática
renovada, distanciando-se dos modelos anteriores de integração e homogeneização
E importante para a nossa educação escolar indígena considerar os
avanços obtidos através das lutas, dos movimentos dos professores, trocas
de experiências e, sobretudo, quanto à legislação brasileira, no que diz
respeito ao reconhecimento e garantia de uma educação diferenciada.
Parecer do professor Enilton André da Silva, Wapixana, RR.
Os objetivos de sua inclusão como tema na escola são:
• Informar as organizações locais (família, conselho dos idosos, conselho das
mulheres) do direito de se organizar, assegurado na Constituição aos povos indígenas.
• Conhecer os seus direitos de respeito à cidadania e à diversidade étnica e
cultural.
• Conhecer os movimentos não-indígenas que levaram os povos indígenas do
Brasil a se manifestarem e se organizarem de maneira peculiar.
• Conhecer a história dos grandes movimentos indígenas no Brasil, seus principais
líderes.
• Conhecer a história das organizações de bases de cada povo (local) e as
organizações regionais e suas principais atividades.
• Valorizar os movimentos como meio de lutas para organizar e lidar com a
sociedade envolvente (não-indígena).
• Atuar no sentido de fazer valer/aplicar estes direitos na experiência escolar
e no cotidiano das relações humanas e sociais com a sociedade nacional.
• Conhecer os tratados, fóruns, declarações e convenções de que o Brasil faz
parte e que tratem de direitos humanos e de direitos do cidadão.
• Conhecer as lutas e movimentos pela liberdade na história dó Brasil e da
América.

TEMA 4:
Ética

Coloquei três perguntas no quadro dentro do assunto de Ciências e Estudos
sociais para eles responderem com suas idéias: Que tipo de pessoas
podemos respeitar? Qual a responsabilidade que devemos ter? Se você
encontrasse algo perdido, entregaria, ficaria, jogaria? Estão essas
perguntas eu fiz para fazer eles pensarem e entenderem sobre o que
acontece aqui ou em qualquer outra comunidade. Joaquim Maná, professor
Kaxinawá, AC.


È a maneira, o jeito de agir, de se comportar, do individuo trente ao
outro,
sem prejudicar a si mesmo e ao seu próximo. Ética tem a ver com o amor, com a
solidariedade, o respeito, a justiça. Sempre que alguém se perguntar sobre os efeitos
da sua conduta no outro, estará diante de uma questão ética. Conhecimentos e
tecnologias novos geram novas questões de ordem moral - usar ou não certa
tecnologia? Que mudanças isso pode provocar? Essas mudanças são desejáveis?
Porquê?

No convívio social, indivíduos e sociedades estão sempre confrontando valores
éticos que podem ser muito diferentes uns dos outros. A preocupação com
os aspectos éticos leva à reflexão para concordar ou discordar quanto às
diversas faces de conduta humana dos povos ou grupos diferentes. A ética
indígena se baseia nos valores e princípios morais próprios das diversas comunidades
indígenas como a solidariedade, a generosidade, a hospitalidade, "o respeito às
coisas sagradas, à mitologia, à natureza, à religiosidade " (Professores
Ticuna, AM), "aos mortos, aos segredos existentes nos rituais'''' (Professores
Bororó, MT), entre outros.

A Ética é um tema transversal que permite revelar e tornar conscientes tais
princípios e valores, que sustentam as diversas formas de conhecimento e conduta.
Permite fazer da discussão dos conteúdos curriculares um momento para formar
uma idéia sobre o mundo, um modo de pensar, um sistema de valores, que impliquem
determinadas atitudes. É a base para se formar opinião sobre a vida e as
questões do cotidiano. A discussão ética dos conteúdos dá a estes uma valoração
social e humana, ajudando a construir o projeto de sociedade que se define como
positivo para aquele grupo.
Sua reflexão na escola apoia o esforço de permanente construção das regras
sociais, alimentando o convívio de cada etnia e a solidariedade existente nas comunidades.
Reforça a maneira como as comunidades indígenas resolvem os seus problemas,
demonstrando a união, fortalecendo as suas lutas em vários setores da
sociedade envolvente.

Nossa "ética " nunca será ensinada, mas sim construída através de lutas
e do convívio nas comunidades. Na escola, os valores tradicionais
recebem tratamentos pedagógicos, reforçando ou substituindo os valores
de uma comunidade. A escola não pode estar separada da comunidade
e não poderá ter um peso maior que a comunidade. Professores Kaingang,
RS.

Trazer para a escola a discussão da ética é recolocar os valores particulares
as sociedades indígenas como transversais à formação escolar, evitando que a escola
seja o local de "perda dos princípios morais da comunidade, como já
aconteceu no passado"(Prof. Gersem Baniwa, AM). Este é um caminho que
Permite a criação de "uma escola com todos os seus valores e características
adequados à realidade de cada povo " (Prof. Enilton Wapixana, RR) e que ajuda
a alcançar os objetivos gerais enunciados por diversos professores:

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Que os valores dos alunos
cresçam à proporção em que
o currículo é desenvolvido,
sendo ele um ponto de
partida para pensar seus
costumes, tradições e
crenças e sua cultura CITI
geral. Antonia Cruz,
Professora Pamkararé, BA.S

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REFERENCIAS CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS

A escola é um centro de conscientização das comunidades, onde elas
resgatam as culturas tradicionais e também conhecem a lei do branco,
para defenderem seus direitos de saúde, educação, economia. Também
forma alguns alunos comprometidos com a causa, para serem pontos de
referência do seu povo. Delegação de professores do Acre, COPIAR.
A escola é para preparar, instruir, conscientizar, incentivar a sociedade
indígena- valorizar as nossas culturas e tradições e assim adquirir
respeito. Delegação dos professores de Roraima, COPIAR.
Temos que ter consciência para viver na equilibração dos dois valores e
ter mais conhecimento no futuro. Edson Ixã, professor Kaxinawá, Acre.
Quanto aos objetivos da discussão da ética, os professores indígenas consultados
assim se pronunciaram:
• Valorizar a dignidade das diferentes etnias.
• Desenvolver os valores da cidadania e dos direitos coletivos indígenas.
• Permitir o fortalecimento de sua identidade.
• Desenvolver os valores da cultura tradicional relacionados:
aos mais velhos
às crianças e aos jovens
às mulheres
aos valores familiares
aos rituais e à religiosidade
às artes, danças, cantos, alimentação, usos e costumes
à organização social.
• Desenvolver e fortalecer o respeito:
- às coisas sagradas
- às decisões da comunidade
- à natureza
- à mitologia
- às festas tradicionais
- à vida e à saúde das pessoas.
• Ganhar consciência sobre os seus próprios valores e os de sua comunidade
e também conhecer e respeitar os valores de outras culturas.
• Desenvolver um sentido de "equilíbrio" de diversos tipos de valores.

REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS

Portadores de valores ancestrais e sabedoria milenar, os povos indígenas
ainda constituem uma reserva ética e podem contribuir na construção
de um futuro diferente para a humanidade. Parecer do professor
Enilton André da Silva, Wapixana, RR

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TEMA 5: Pluralidade Cultural

0 aluno indígena reconhece que é importante levar para a escola os
conhecimentos tradicionais de seu povo. No entanto, é preciso mais
ainda, ou seja, chegar ao conhecimento desta realidade sem esquecer
o conjunto. Parecer da professora Sélia Juvêncio, Kaingang, PR.

Como entender esta temática? Trata-se da diversidade de culturas que existem
em todos os lugares e em diferentes grupos humanos. A grande diversidade
das sociedades indígenas no mundo é um exemplo de Pluralidade Cultural.
Quais as possibilidades de a pluralidade cultural estar reforçada e reafirmada
no currículo das escolas indígenas? Propõe-se, neste referencial, tratar a pluralidade
como uma temática transversal. E bom ver a realidade de cada povo junto aos alunos.
Essa cultura, em muitos casos já desvalorizada e esquecida pela escola, deve
ser pesquisada pelo professor indígena juntamente com outros membros da comunidade
educativa e transmitida aos alunos.

Os conhecimentos de sua própria realidade devem ser estudados sempre
comparativamente com os de outras culturas, de diferentes etnias, "para que nós
índios possamos conhecer e ajudar nas lutas, através das organizações das
próprias comunidades. Tais estudos permitem que não se reforcem os preconceitos
em relação às demais etnias deste país, devendo, sim, divulgar os nossos
valores culturais como qualquer grupo humano ou etnia. Porque cada
povo tem a sua própria cultura e deve respeitar a do outro ". Professores
Kaingang, RS.

Mas quem vai fazer tudo isso? São os professores indígenas que estão atuando
nas escolas, fazendo a prática e a teoria andarem juntas na sala de aula,
tomando assim, todos os dias, a vida da escola mais alegre e prazerosa. Todas as
áreas de estudo nas escolas indígenas têm seu currículo organizado a partir de um
olhar intercultural, o que implica o conhecimento e a conscientização sobre a pluralidade
cultural.
Em Geografia e História, por exemplo, o caminho é trabalhar sempre
articulado ao conhecimento dos alunos sobre o sentido do tempo e do espaço; ao
mesmo tempo, e de forma comparativa, com os sentidos dados por outras culturas.
O significado que ganham o território indígena e a história local vão sendo
relacionados com as noções de espaço e tempo em uma perspectiva mais ampla,
indo em direção ao outro, seja este outras sociedades indígenas, ou a sociedade
regional, nacional, ou internacional.

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Também a Matemática estará pondo em contraste as diferentes formas de
pensar matematicamente de distintas sociedades, tendo como base a matemática
conhecida e exercida pela comunidade à qual pertence o aluno.
A Pluralidade Cultural é assim uma maneira de atingir os objetivos do
ensino das áreas de estudo, em que o conhecimento escolar deve estar relativizado
historicamente, enfatizando-se as diferentes produções culturais e científicas dos
diversos povos e sociedades humanas. (Por exemplo, algumas civilizações orientais,
cujas cosmovisões ofereceram e oferecem resistência à lógica ocidental). Não
só uma língua, aquela dominante, mas as diversas línguas faladas pelos alunos. Não
só uma geografia, ou uma só história e ciências, aquelas contidas nos livros didáticos
oficiais e no saber escolar, mas o saber histórico e geográfico como um saber
dialogado entre diferentes sociedades indígenas e não-indígenas, relacionadas naquele
momento pela escola.
Entre os objetivos principais da temática da pluralidade cultural na educação
escolar indígena estão:
• Estabelecer o diálogo respeitoso entre os indivíduos e as diferentes culturas
com as quais convive.
• Possibilitar um ambiente de respeito entre os diferentes alunos na escola e
entre estes e o professor.
• Analisar o saber transmitido na escola como um saber histórico e culturalmente
produzido, pondo-o em diálogo com outros saberes de outras épocas
e culturas.
• Apoiar a dimensão bilíngüe ou multilingue do projeto pedagógico.
• Relacionar, nas diferentes áreas de estudo, os conhecimentos e valores das
diversas culturas, tendo como base a própria cultura dos alunos.
• Favorecer a compreensão da relação entre sociedades indígenas e sociedade
envolvente.
•Reconhecer os valores pluriétnicos e pluriculturais da sociedade brasileira e
da humanidade.
Meu nome é Alexia. Eu sou da Escola Agora. Eu sou da alfabetização.
Eu tenho 6 anos. Eu gostaria de conhecer a Amazônia. Essa escola é
muito bacana, eu estudo as abelhas. Tem três tipos de abelhas: abelha
rainha, , abelha operária e zangão.

22 de setembro 97
Escola Bom Futuro de Técnica, Terra Indígena Rio Jordão
Pequeno Comunidade Centro Flor da Mata
Isabela, eu te conheci através da sua carta.
Eu fiquei impressionado com o nome do seu colégio, a Escola Agora,
porque a minha é uma casinha construída de palha de ouricuri e chão de
tronco de palmeira. A minha escola fica distância de 35 minutos de
caminhada.
Estes desenhos são utilizados no dia das festas de mariri e txiri e são
usados também na escola como dramatização desta festa tradicional do
povo Kaxinawá.
Assina Sueli Maspã 8 anos e 3 anos de estudo

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TEMA 6:
Saúde e Educação

O tema Saúde e Educação busca repensar a cultura de saúde dos povos
indígenas, valorizando os conhecimentos acumulado por esses povos ao longo de
séculos e buscando alternativas eficientes para os novos desafios a serem enfrentados.
Saúde é muito mais do que ausência de doenças e se expressa na luta pela
defesa do bem estar e da vida. As pessoas e as comunidades vivem condições de
saúde ou doença de acordo com seu potencial e suas condições de vida. E a vitalidade
física, mental e social, para enfrentar as transformações da vida, os desafios
e os conflitos, expressam esse potencial. Os povos indígenas tradicionalmente cuidaram
da sua saúde. Mas hoje precisam enfrentar novos desafios. Como atuar em
favor da saúde dentro das suas realidades atuais?
O tema saúde pode ser tratado em muitas situações na sala de aula, nas diversas
disciplinas. Em História, pode-se estudar a ocorrência de doenças ao longo do tempo;
em Geografia, o fato de que diversos fatores estão relacionados a saúde e doença e,
especialmente, em Ciências, onde são tratadas as relações do organismo humano com
o meio ambiente.
Os contextos de aprendizagem podem ser construídos considerando-se os
seguintes aspectos:
a) saúde/doença e história do contato - a própria noção de contato deveria
ser melhor discutida, já que vem carregada da idéia "de um outro contaminante",
além do problema do preconceito e do estigma. Seria bastante interessante identificar
as doenças que se transmitem pelo contato interétnico e quais os contextos internos
que favorecem sua propagação na comunidade;

Esta semana foi a prática da
oficina das plantas medicinais
durante três dias. Dez
pessoas participaram como
representantes de sua família.
Trabalho reconhecido
como revitalização das plantas
medicinais usadas na comunidade.
Como muitas pessoas
sabem muito bem de algumas
plantas, mas não ensinam
aos mais novos e nem
acreditam no que sabem, por
isso estamos com a idéia de
dar continuidade a este trabalho.
Joaquim Maná, professor
Kaxinawá, AC.

b) saúde/doença na comunidade - identificar os problemas de saúde da co
munidade, quais os seus principais determinantes internos e externos, como a comunidade
trata seus doentes, quem trata e qual o conhecimento produzido a respeito
de determinadas doenças, como se produz esse conhecimento, como se promove a
saúde nas aldeias etc;
c) política de saúde e sistema de saúde para os povos indígenas - permite
colocar a questão do direito de cidadania, do controle social dos povos indígenas
sobre a política de saúde, de sua participação nas instâncias de decisão.
A escola pode ser um espaço para as pessoas conversarem sobre os problemas
de saúde de uma forma bem ampla, envolvendo lideranças, agentes de saúde e
pais de alunos em atividades extracurriculares. Para contribuir nesse processo, o
professor deve estar capacitado para tratar dessas questões e ainda para reconhecer
os sinais de gravidade das doenças mais comuns em sua região, já que elas
acontecem também com seus alunos e familiares.

"Os rios estão morrendo, as florestas estão desaparecendo, o ar está
ficando escuro e o meu corpo está ficando cansado de viver... " (depoimento de
uma líder Macuxi).

 Hoje, em várias terras indígenas, são abertos ilegalmente garimpos
que poluem os rios, devastam as matas, espantam os animais e eles morrem de
fome porque vão para fora do seu habitat. Os peixes ficam doentes, contaminados
com mercúrio, as águas ficam sujas, não servem para tomar banho, para fazer
comida e muito menos para beber. Existem muitos produtos agrotóxicos, lançados
na terra, que chegam aos igarapés, rios, lagos, dos quais as pessoas se servem. As
fazendas que se instalaram ao redor dessas terras - e às vezes práticas adotadas
dentro das próprias terras indígenas - fazem a degradação da fauna e da flora,
alterando as condições do solo, da água, do ar e da alimentação. Tudo isso é mim
para todos. As terras são diminuídas pela invasão variada e indiscriminada em todas
as partes do país. Alguns povos não possuem terra nem para morar e vivem nas
favelas das grandes cidades. As invasões culturais chegam com uma velocidade
sem igual, através dos mais modernos meios de comunicação, sem deixar tempo de
se raciocinar sobre como se livrar dessa invasão.
Para enfrentar essa situação, os povos indígenas necessitam de novos métodos
para a prevenção de doenças e para o cuidado de sua saúde. Muitos problemas
de saúde foram trazidos junto com a invasão de suas terras e mostraram que
podem levar comunidades inteiras à doença e à morte. E preciso que os serviços de
saúde desenvolvam novas tecnologias para o cuidado dos povos indígenas, pois
suas necessidades são particulares e as doenças trazidas pelo contato podem ter
um impacto diferente em sua saúde. Um dos meios importantes de preservar a
saúde e combater os males acima mencionados está na pesquisa e na valorização
da própria medicina indígena tradicional.
As plantas sempre foram utilizadas para melhorar e recuperar a saúde das
pessoas. Também não foi diferente com os povos indígenas: os conhecimentos foram
passados de uma geração para outra e descobertas foram sendo feitas, juntamente
com melhores técnicas e novos conhecimentos. A constante troca de descobertas
enriqueceu a bagagem de todos os povos e deu condições de salvaguarda
das enfermidades existentes em cada época. Mas com a invasão descontrolada
de sua terras, perderam-se muitos dos seus conhecimentos. No entanto,os
que continuaram longe da invasão puderam dar continuidade à sua medicina.
Variadas plantas conhecidas e/ou cultivadas pelos povos indígenas são utilidas
na fabricação de remédios para curar as mais diversas doenças. As frutas, as fo
lhas as raízes, as flores e a madeira de diferentes espécies de plantas enfeitam a
natureza e também servem como terapia. As curas através da benzedeira e da
pajelança, também entram no contexto de prevenção de doenças. A medicina tradicional
ajuda no controle da fertilidade e no reforço das habilidades para desempenhos
na vida social: ser bom caçador, bom flechador, ter força nas lutas etc. Há
normas para se ter saúde, tais como, para algumas sociedades, o resguardo das
mulheres na primeira menstruação, durante um certo período, desde a alimentação
até o repouso. O respeito a estas normas ajuda a prevenir a doença e a passagem
mais saudável da juventude à velhice.

Esta semana foi a prática da oficina das plantas medicinais durante três
dias. Dez pessoas participaram como representantes de sua família.
Trabalho reconhecido como revitalização das plantas medicinais usadas
na comunidade. Como muitas pessoas sabem muito bem de algumas
plantas, mas não ensinam aos mais novos e nem acreditam no que sabem,
por isso estamos com a idéia de dar continuidade a este trabalho.
Professor Joaquim Maná Kaxinawá, AC.

No dia de aula com o enfermeiro José pedimos a ele que nos levasse à
mata e mostrasse remédio que serve para dor de cabeça, dor de dente,
remédio para tosse, para mulher pegar filho, para ficar bom da memória
e para matar caça. Andamos muito tempo dentro da mata. Alguns desses
remédios, o enfermeiro trouxe para casa e colocou em uma caldeira
para cozinhar. Com 3 horas no fogo, deixou esfriar e com a água do
remédio ele dava banho. Primeiro nos que tinham signo "dua bake " e
depois nos "inu bake". Deu banho também nas mulheres "banu bake"
e "inani bake". Depois do banho, o enfermeiro explicou os tipos de
remédio que ele tinha usado e o significado de cada um para o povo
Kaxinawá. Josimar Tui, professor Kaxinawá, AC. 

T E M A S

TRANSVERSAIS
Além dos valores para a promoção da saúde, devem ser estudados na escola
os meios de prevenir a disseminação de muitas doenças. Os cuidados de higiene precisam
ser tratados de maneira destacada, lembrando que há cuidados higiênicos diferentes para
situações diferenciadas - novos padrões de comida, de vestuário, de moradia etc. É
importante discutir a questão do lixo, já que são múltiplas as sujeiras existentes e que os
tipos de lixo também vão variando conforme as novas situações de vida das aldeias. As
doenças causadas por contaminação estão em todos os lugares: diarréia causada por
verminose, principalmente, é uma doença quase crônica entre a maioria dos povos
indígenas.
 E muitas outras doenças precisam ser estudadas na escola, para sua
prevenção e também para a valorização dos Outro problema vem à tona
de supetão, como um susto
para a maioria dos povos
indígenas: as Doenças
Sexualmente Transmissíveis/
DST e AIDS. Professores
Macuxi.
cuidados com a pessoa doente. É o caso de doenças como a tuberculose, a gripe,
a meningite, o cólera, a hepatite e outras. Os programas dos órgãos oficiais precisam
atender essas demandas, fornecendo informações e recursos para a prevenção
e para o atendimento aos doentes.
Há que se considerar a importância do professor e do estudante indígena na
prevenção dessas doenças ao divulgarem informações para os demais membros da
comunidade. Deve-se lembrar que a escola é um lugar que também propicia situações
de namoro e que a escrita é uma novidade na troca de mensagens de carinho.
A AIDS, por ser uma doença incurável, até o momento, e transmissível,
merece atenção especial. A transmissão se dá, além da via sexual, pelo
compartilhamento de objetos utilizados para perfurações ou escarificações da pele,
contaminados com o sangue de pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV), transmitindo-se também da mãe contaminada para o filho durante a
gestação, o parto e a amamentação. Diante da epidemia mundial da doença, é
preciso que todos sejam conscientizados da potencialidade negativa que ela representa
para os povos indígenas que se encontrarem desinformados, sem acesso aos
serviços básicos de saúde e, o que não é raro, numa situação de extrema dependência
de outras instituições.
O número crescente de casos de doenças sexualmente transmissíveis começa
a preocupar muito algumas lideranças indígenas. Programas com características
de conscientização e prevenção, buscando deter tais ameaças, estão sendo
implementados pelas próprias comunidades. Mas só isso não basta. A escola e
outros setores da sociedade devem mobilizar-se e fazer parceria diante disso, para
impedir que essas doenças se espalhem, trazendo riscos para a saúde dos povos
indígenas. Sabe-se que também, na maioria das sociedades indígenas, o assunto
sexualidade é um tabu, mas isso precisa ser enfrentado, para que se possa fazer a
prevenção. Deve-se encontrar mecanismos para que a escola veicule os conhecimentos
mais eficientes, sem com isso afetar a cultura milenar, que, por sua vez, é dinâmica e
deve incorporar novos conceitos e padrões de saúde, que, como práticas culturais,
sempre se renovam.
A temática Educação e Saúde cumpre seus objetivos ao:
• Conscientizar os alunos para a valorização da saúde do indivíduo e da
coletividade,
• Sensibilizar para a identificação dos fatores que beneficiam ou prejudicam a
saúde.
• Capacitar quanto ao conhecimento de medidas práticas de prevenção de
doenças e aos meios eficientes de promoção, proteção e recuperação da
saúde.
• Colaborar na identificação das doenças, comunicando os casos detectados
na escola ao órgão de saúde competente.
• Conhecer e valorizar os conhecimentos milenares de prevenção de diversos
povos indígenas e outros povos.
• Valorizar a medicina indígena como método eficiente de tratamento de muitas
enfermidades.
• Conhecer e valorizar os diferentes tipos de curas que podem ser usadas em
muitas enfermidades.
• Conhecer a importância da higiene para prevenir as doenças.
• Conhecer as doenças que são transmissíveis e seus meios de prevenção e
tratamento.
• Conscientizar-se da importância de prevenir e tratar as doenças que são
transmitidas pela relação sexual.
• Reconhecer que a saúde é um direito do cidadão e praticá-lo em relação a
si mesmo e na relação com a sociedade envolvente.
• Conhecer e aplicar os cuidados necessários para o consumo de alimentos
advindos das relações do contato.
• Identificar o consumo excessivo de álcool como um risco para a saúde.
"Gripe"
Palavras escritas para nos curar (MEC/PNUD/CCPY)

FONTE: REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS INDÍGENAS

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